Generosidade Contagiante

A Comunidade de Galba - do ROVER Regional de Braga (2008) - desenvolveu, como projecto comunitário na primeira fase deste caminhada da IV, o apoio a um casal do lugar de Casais de Vide (Aboim da Nóbrega), concelho de Vila Verde, na construção de uma casa de banho.
Este poderia ser um projecto de serviço como qualquer outro não fossem alguns simples pormenores que apesar de simples, fazem toda a diferença.
Destes, destaco dois... a envolvente e a aprendizagem.

Quem como eu, teve o privilégio de marcar presença na obra que Galba assumiu levantar, não creio que fosse possível, não se deixar contagiar por todo o espírito de querer participar, de se querer dar mais a este pequeno e grandioso projecto. Seria difícil, não repetir, e repetir a experiência, quando se percebe que não se está apenas a fazer uma Boa-Acção, a ser caritativo ou solidário... Quando entendemos que estamos a proporcionar condições que temos como básicas no nosso dia a dia, como nos lavarmos, é fácil perceber que só pode ser num espírito de grande humildade que entramos na casa do Ti Quim para partilhar a alegria de completar o seu lar. Se a tudo isto juntarmos a admirável beleza de toda a envolvente, limitada na linha que divide o céu e os montes e que abraça aquelas casas de pedra onde se vive debaixo de telha... se vive humildemente com uma simplicidade tão grande como a própria natureza que lhes invade a casa, então qualquer fotografia que pudessemos imaginar, se torna viva e real. Tudo ali é diferente, e se nos deixarmos contagiar por tudo, vemos que as trivialidades tecnológicas, as práticas mundanas, os olhares egocêntricos,... rapidamente passam para o cortex das memórias esquecidas. É como se tudo ali nos agarrasse à terra e nos fizesse sentir parte dela. É lindo e só experimentando, compreendemos como se pode viver ali e ser feliz... mesmo com nada.

Mas de uma experiência, destas, com o tanto que se pode retirar e aprender, salta-me, escutisticamente, uma avaliação... Quando queremos, somos capazes de arranjar tempo para os outros.
É certo que neste caso, o compromisso assumido, implicava que se levasse o projecto até ao fim... comprometermo-nos implica essa responsabilidade... ainda que nem todos o tenham entendido assim. Mas aqueles que ficaram souberam dar uma resposta mais consciente ao apelo que lhes foi feito e, nesse sentido mostraram que é possível. Acredito que todo o ambiente que descrevi atrás, tenha contribuído para isso e para que eles se superassem a eles próprios, mesmo com algum prejuízo para as suas vidas pessoais. Creio que Deus os saberá recompensar extraordinariamente por isso e espero que eles se sintam suficientemente iluminados para o sentir. A verdade é que eles tiveram a coragem de deixar bastantes vezes o 'Agora tenho de estudar', o 'Hoje não posso',... de lado para tornar o sonho do Ti Quim uma realidade.

Uma realidade a ser inaugurada no dia 17 de Janeiro :)

photo: castorpioneiro

A filosofia da B.A. ... ou não...

"Era uma vez, há muito tempo, numa terra longínqua, um cavaleiro que se considerava muito virtuoso, amável e dedicado. Fazia a todas as coisas que os cavaleiros virtuosos , amáveis e dedicados fazem. Os seus adversários de combate eram criaturas malvadas, vis e desprezíveis. Matava dragões e resgatava donzelas em perigo. Quando as aventuras de cavalaria andavam mais paradas, tinha o péssimo hábito de salvar as donzelas mesmo que elas não quisessem ser salvas. Assim, apesar de muitas donzelas lhe estarem agradecidas, outras tantas estavam furiosas com ele. Ele aceitava isto como uma filosofia. Afinal não se pode agradar a todos." (1)


Encarar a nosso dia a dia e as nossas rotinas como uma checklist que temos de cumprir e praticar, leva-nos a que não orientemos o nosso caminho por uma filosofia de vida mas adaptamos a filosofia para encaixar no caminho pelo qual a 'orientámos'.Mas praticar diariamente uma Boa Acção não é uma obrigação moral à qual temos de estar ligados. É, ou deve ser, sim, uma necessidade de vivência da comunhão diária de existir. Estar aberto a praticar a caridade, mas não do alto do corcel, pelo contrário, fazê-lo, na humildade de sermos todos semelhantes uns aos outros e, nessa condição, termos tanto a aprender... mesmo quando pensamos que só estamos a dar.

(1) Robert Fisher - 'O Cavaleiro da Armadura Enferrujada'